A FAZENDA CANABRAVA, ATUALMENTE SUBMERSA Foto: Lourdes Nicácio |
Dilúvio
Lourdes Nicácio
Agora vives
a construir um barco
Arca de fim do mundo.
Não vês
que o dilúvio
está em ti
que te arrebatas
em ondas
para o além de ti mesmo?
Quando não mais
te alcançares
em grãos de areia
ou terra
aqui
as sementes voam
desde as raízes
Quem te substituirá
na festa de Deus?
Desarma-te
Ritmo das águas vivas
Lourdes Nicácio
Bem dentro de mim armazenei
do São Francisco ilhas, barcos, capinzais
cajus, goiabas,peixes, frutos de água doce
o clima fresco, o cheiro verde, o arrozal
Moinhos, rodas d’água, as carrancas
as pedras, os banhos, as roupas brancas
gestos florais de cachoeiras e águas mansas
cheiro de argila e bebedouro nas vazantes
Moitas, arbustos, diademas de cipós
sombras da fauna, maretas, faixas de areia
vitalidade permanente, tanto encanto,
tesouro antigo dos palácios das Sereias
A imensidão dos campos e rebanhos
culto aos pastores, agricultores, remeiros
lições de vida, pores do sol, rituais
que o Vale tece como artesão dos milagres
Sementes, pétalas, raízes em superfície
balsas de adubo rastreando as margens ativas
Daí por que de mim emanam sonhos, melodias
ou seiva do rio, inteiro, em ritmo das águas vivas.
Sertanejo
Lourdes Nicácio
Sobre o teu peito
a luz,o ouro, o bronze
- um sol já tecido
exposto às manhãs
Nas mãos a firmeza
de um condutor sagrado
protetor da terra
área dos milagres
Na voz, a força
o cetro, o Império
Nos pés, arbustos
e o passo firme
Dos olhos
emanam mistérios:
lendas, pássaros, frutos
o rio
o sonho
a vida.
Eu poderia, deveria, mas não quero, dizer o clássico "sem comentários", mas um Blogger exige o contrário. E eu sou fã incondicional deste telurismo todo. É muita inspiração. Lourdes bebeu muita àgua do Rio São Francisco, no seu coração fértil brotou a flor do poema doce, como aquelas águas, refescante e manso... Um telurismo lírico!
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